Capítulo 4 - "Be a Man"
Capítulo 4 - Be a Man
Passavam uns minutos das vinte horas quando Liam entrou no clube. Estava ainda vazio, porém mais de dez empregos já se encontravam em limpezas e arrumações.
- Já vi que pontualidade não é o teu forte - Murmurou Alison. Indicou logo o escritório onde o gerente estava - o local onde as entrevistas se realizam, mas Liam ficou quieto, ainda observando o espaço, que naquela noite, com o barulho das luzes, fora impossível. - Ele está à tua espera.
Liam entrou e a entrevista demorou pouco mais de vinte minutos. Foram perguntas simples, basicamente de resposta afirmativa ou negativa. No final, sem dar o seu verídico, pediu que esperasse lá fora, enquanto falava com Alison. Aguardou calmamente, e quando Alison saiu, levantou-se.
Congratulou-o: - Parabéns, ficaste com o trabalho.
Satisfeito, esboçou um sorriso vitorioso. - O que é que o Chad acha... Disto?
Ela olhou-o, séria. - Se queres saber se o meu irmão sabe que trabalho aqui, a resposta é sim. E odeia.
Exposto, não teve coragem para responder. Seguiu a rapariga para uma sala ampla, com vidros fumados, um sofá bastante comprido, uns bancos e uns cacifos em madeira individuais, porém abertos. Era a sala-comum.
- Este é teu cacifo - Começou por explicar. - Naqueles varões horizontais costumamos pendurar as roupas e adereços. A casa-de-banho é no canto.
- Obrigado.
- Como é o teu primeiro dia, podes vestir... - Procurou entre os cabides algo considerado "espantoso". Tirou umas calças pretas, um top branco e uma gravata, igualmente preta.
- Estas peças, este clube...Diz-me que isto não vai ser o Magic Mike.
- Isto não vai ser o Magic Mike - Afirmou rapidamente, enquanto escolhia a sua roupa. Depois, de costas para Liam, tirou a sua camisola e soutiã. Ajeitou o corpete ao peito e aproximou-se do rapaz. Mas ele continuou a olhar para as suas costas e cintura, pensando como uma mulher com olhos de menina, tinha aquele corpo. - Nunca viste um corpete?
- O quê?
- Podes aperta-lo?
- Claro - Puxou, e rapidamente controlou as formas naturais do corpo de Alison, conferindo-lhe mais elegância. Era tão bonito. Tão sensual.
- Obrigado.
- Miúda, não gosto nada que as pessoas fiquem a pensar cenas erradas de mim.
- Cenas?
- Coisas... Eu sou pontual.
Alison voltou-se novamente, desta vez para vestir as meias de liga escuras. Assim que se arranjou, já junto à porta, sorriu-lhe: - Tenta não difamar... eu adoro o Magic Mike.
Claro que gostas, pensou.
***
A sua primeira noite tinha chegado ao fim. Para além dele e Alison, havia outros oito empregados. Quem lhe deu a "formação" foi outro empregado que já trabalhava no clube há mais de dois anos. Como era a sua primeira noite e ainda estava "à experiência" não saiu de trás do balcão. Aprendeu a fazer os cocktails mais procurados, a saber falar com a clientela. Deparou-se com a grande diferença de expressão. Falar com os sócios do Resort implicava escolher palavras caras. Falar com a escumalha da noite, implicava escolher palavras de fácil entendimento. Ainda não compreendia onde Alison se enquadrava, mas isso eram outras conversas. Quando terminaram as limpezas, entraram todos para a sala onde esteve anteriormente - O vestuário - e mudaram de roupa. Concluiu, portanto, que Alison não se estava a atirar a ele. Aparentemente, era um hábito se despirem em frente uns aos outros. Não havia pudor, até por que, cada um "estava na sua vida", como o seu formador lhe disse.
Posto isto, considerou que se adaptou bem ao ambiente.
- Até amanhã, pessoal.
- Adeus, Ali - Despediram-se os outros.
Liam seguiu-a, observando o seu jeito da caminhar. Ela ainda vestia o blusão pelo caminho. Quando chegou à porta, parou para apanhar o cabelo, e Liam abriu-lhe a porta. Os empregados saíam sempre pela porta traseira. Ela sorriu-lhe como agradecimento e continuou a andar.
Mas Liam não queria que ela fosse embora.
- Ei, queres ir comer qualquer coisa? - Questionou-lhe.
Ela voltou-se, tentando perceber os seus pensamentos. Acabou por aceitar, embora remitente. O objetivo era não dar nas vistas. Mas ir jantar com Liam não ia mudar isso, certo? Quando entrou no carro, o seu coração estava acelerado. E isso não era habitual. Ajeitou o espelho retrovisor. Liam já tinha as luzes acesas e foi o primeiro a sair. Conduziram pela auto-estrada até sair da cidade, como combinaram. Depois encostaram os carros junto a uns terrenos, onde ao fundo, iluminado, fora montado uma espécie de café. Bom, na realidade, eram umas roulottes onde tudo era servido em plástico. Pediram uns hambúrgueres e para beber, a respetiva água. Sentaram-se na mesa do fundo.
- Eu sei que prometi não meter-me, mas... - Começou por dizer, revirando os olhos. Liam soltou um riso, pensando já do que se tratava. - Água? A sério? Tu conduzes um Alfa Romeo como um bad boy dos anos 80 e bebes água? Água? Sê um homem!
- Há um motivo para tudo, miúda.
- Eu sei o teu.
- Só 'tou de ouvidos...
- És alérgico ao álcool.
Liam soltou uma enorme gargalhada, sincera. Nem foi só pelo que disse, mas sim a forma como o disse. Séria. Convicta.
- Tu és engraçada, miúda - Admitiu, também sério. Depois, voltou a observá-la enquanto comia. - Eu não sou alérgico ao álcool, simplesmente não bebo quando vou conduzir.
- Oh - Suspirou Alison - Proativo.
***
- Há uns três anos atrás... O meu irmão, Dave, tinha uma promissora carreira de basketball. E um dia, tive a infeliz ideia de ir a uma festa na cidade com uns colegas. O Dave tinha bebido muito. Eu também, mas não considerei na altura. Portanto, quando ele me passou as chaves para a mão, não hesitei em conduzir até casa. Achei que estava bem. E trouxe o carro - Fez uma pausa e respirou fundo. Depois de arrancar o rótulo da garrafa de água, continuou lentamente: - Provoquei um acidente. Quase terminei com a minha vida. Quase terminei com a vida do meu irmão. Ele teve dificuldades em voltar a andar, a escrever e... Os anos passaram. Apesar de nunca me ter dito nada, eu sei. Eu sei. Eu sei que sou o culpado de ele nunca ter sido a estrela do Bulls - Voltou a fazer uma pausa. Deu conta de Alison especada a olhar para ele. - E... Eu não sei por que é que acabei de contar isto a uma estranha.
- É por isso que queres ajuda-lo com a oficina.
Assentiu. Levantaram-se e caminharam até aos carros. Pareceu a Liam que a noite estava mais escura, do que há uma hora atrás. Encostaram-se ao seu carro, em silêncio. Ao fundo, a grande cidade de Chicago espreitava. Olhou ao céu. Ainda não se tinha apercebido que estava repleto de estrelas.
- Esta luz é tão inspiradora, forte...
- Mas facilmente ofuscada pelas luzes da grande cidade.
- Só se deixares.
Liam concordou, mas rapidamente se levantou. Alison também se levantou, aproximando-se do rapaz. Era tarde, fazia frio e tinha de ir para casa, mas não queria dizer-lhe isso. Não queria dizer-lhe para se ir embora por que sabia exactamente onde ia parar. Então permaneceram a olhar-se nos olhos, como quem quer saber mais sobre o mundo. Como se estivessem a olhar para o mundo.
Até que Alison quebrou.
- Não. Nós não vamos fazer isto. Não te apaixones por pessoas como eu. Vou levar-te a museus, parques, praias, concertos e vou beijar-te em todos os lugares consideráveis bonitos para que nunca voltes lá sem a recordação. Do meu gosto. Do meu toque. Como sangue na tua boca. Eu não sou má pessoa, mas vou destruir-te da maneira mais bonita que há - Fez uma breve pausa, suspirando. Olhou às estrelas, novamente. E lentamente proferiu: - E quando te deixar, vais finalmente perceber...
Liam interrompeu-a, olhando-a. - Por que é que as tempestades têm nomes de pessoas - Ela riu, quebrando finalmente o gelo. - Eu também sei ler - Respondeu, também rindo.
E com este final, conhecemos mais um pouco de Liam!
Alguns capítulos são maiores do que outros, e não sei, preferem os capítulos assim grandinhos ou mais pequenos?
Feliz Dia da Mãe e Feliz Dia do Trabalhador 💪
um beijinho,
Annie ♥